Amigos do Fingidor

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Os mistérios de uma fotografia

Rogel Samuel*


Como se pôde obter essa fotografia?

Fileto Pires Ferreira concluiu as obras do Teatro Amazonas, que estavam paradas, e o inaugurou em 31 de dezembro de 1896. Mesmo assim, no dia da inauguração, neste dia, os andaimes da construção do teatro ainda estavam lá, talvez, porque o teatro não estava inteiramente concluído. Inaugurou-se o teatro naquele dia com La Gioconda, de Amilcare Ponchielli, sob a regência do maestro brasileiro Joaquim de Carvalho Franco, que foi diretor da Academia Amazonense de Belas Artes.

Como se pôde obter aquela fotografia aérea?

A foto deve ser da época da inauguração. Governo Fileto Pires Ferreira.

Como não havia helicóptero, a foto só pôde ter sido tomada de um balão!

Mas como fotografar de um balão com as câmeras fotográficas da época?

Quem foi o autor da foto? Foi George Huebner (1862-1935), um fotógrafo alemão que se estabeleceu em Manaus, onde viveu cerca de 50 anos, e onde faleceu.

Diz Mário Ypiranga que a foto é da edição de George Huebner, de Dresden, Alemanha. O livro está publicado hoje: George Huebner 1862-1935: um Fotógrafo em Manaus, de Daniel Schoepf.

Sobre George Huebner, leia-se de Andreas Valentin:

http://www.studium.iar.unicamp.br/17/02.html?studium=index.html

Observando bem, se vê em primeiro plano os fortes muros de contenção que foram construídos e que existem até hoje como o que hoje aparece na Rua Simão Bolívar e serviriam para conter o arrimo do Palácio do Governo, a maior obra de Eduardo Ribeiro, maior do que o Teatro Amazonas. O Palácio nunca foi finalizado, e sobre suas fundações Álvaro Maia construiu a escola normal tal como existe até hoje. Os muros estão lá, para confirmar. O Palácio seria, se construído, a maior construção do Brasil de sua época!

Naquele espaço depois do muro há umas casas que deviam abrigar operários ou materiais e muito mato. Ali hoje estão ruas e casas.

Atrás, à direita da foto, a observação é mais curiosa: onde está o Palácio da Justiça? Está ali, ainda quase no chão, está em obras. As obras podem ser vistas se ampliar a foto.O que se vê é a estrada tosca do que viria a ser a Avenida Eduardo Ribeiro e a Matriz, no canto superior direito. Dá para ver os postes de iluminação no meio da Avenida, um luxo para época. São postes com várias lâmpadas cada um, cada um tem três fileiras de lâmpadas, contei 30 lâmpadas em cada poste.

Mas atrás da igreja Matriz há uma construção enorme. Que será aquilo? Perto do quarto poste se pode distinguir a casa de Eduardo Ribeiro, talvez. Observe no primeiro plano que o terreno desce e aquilo devia dar num lago ou pântano e essa depressão existe até hoje, atrás da Academia de Letras. Aquele terreno era um pântano.

É uma foto aérea, rara para a época.

Foto extraordinária.

*Publicado no blog de Rogel Samuel.