Amigos do Fingidor

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Poemas para minha aldeia

Jorge Tufic



São raros, hoje, os textos de poesia que não temem a crítica por assumir uma postura independente da parafernália daqueles que estão mais para as letras de música pop, do que mesmo para uma lírica moderna, ainda em paz com a arte do soneto, do verso livre, das redondilhas que lembram Rosália de Castro, a par de cânticos e louvores da terra, quase evocativos de autores como Ronald de Carvalho e Judas Isgorogota. Pois este Poemas para minha aldeia, de Sarah Rodrigues, traz-nos de volta as delícias de todo esse cancioneiro perdido entre as névoas de um passado recente, sem, contudo, deixar de ombrear-se aos maiores de nossa atualidade, quer pela escolha e desenvolvimento de seus temas, quer pelo senso lapidário de suas estrofes solares, com maior empenho formal quando elege o soneto como seu modo predileto de forjar os momentos eternos da vida e da morte. Exemplos disto iremos encontrar naqueles intitulados de “O corpo da paixão não terá sono”, “O olhar se perde agora na moldura”, “Coração deserto”, “A velha seringueira”, o dedicado a seu pai, para citar apenas alguns de uma série realmente antológica.

Os demais são poemas intercalados que tratam de motivos diversos concernentes ao planeta amazônico, seu amor à terra, com a imagem do rio, das paisagens e dos fenômenos cromáticos e meteorológicos, num diálogo permanente de quem ama a vida e sabe cantá-la tão bem quanto os pássaros mágicos do lendário perdido. Ou seja, daquele que só os poetas compreendem nas vozes da natureza.