Amigos do Fingidor

domingo, 3 de março de 2013

Membros da AAL questionam encerramento de inscrições para novo imortal

Gustav Cervinka(*)




A direção da Academia Amazonense de Letras (AAL) está, no mínimo, em estado de observação na visão de alguns de seus próprios membros vitalícios. O motivo envolve a escolha do próximo ocupante da cadeira de número 21, cuja vaga foi deixada pelo poeta Luiz Bacellar, falecido em 9 de setembro de 2012.

Algumas das celebridades literárias confirmam que o período para a inscrição dos interessados em conquistar a ‘imortalidade’ teria sido antecipado, contrariando o que havia sido previsto em comunicado oficial interno da entidade. Há suspeitas, inclusive, de favorecimento de candidatos.
O mais descontente com o assunto é o escritor Zemaria Pinto, que ocupa o assento 27, cujo patrono é Tavares Bastos. O imortal chegou a se manifestar abertamente, no blog dele (‘Palavra do fingidor’). Segundo ele, no início deste ano, foi comunicado aos membros da AAL, por meio de um boletim, que o período de inscrição seria entre os dias 8 de março e 8 de abril. “No dia 21 de fevereiro, entretanto, soube que as inscrições se encerrariam quatro dias depois (25/02)”, menciona.

Em conversa com o EM TEMPO, o escritor – que pertence à AAL desde 2004 – questiona os interesses da entidade por trás dessa mudança de datas para as inscrições. Segundo ele, o fato poderia ser explicado como uma possível intenção de favorecimento à candidatura da reitora da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), Márcia Perales.

“Nada tenho contra a figura dela. Apenas questiono o posicionamento da direção da Academia”, diz. Zemaria chega a repetir o dito na carta aberta publicada na sua página na internet. “Até mesmo no dia do enterro de Bacellar, repetia-se que a vaga deixada por ele já seria da professora Márcia Perales”, comenta.

Conforme nota encaminhada ao EM TEMPO, o presidente da AAL, Arlindo Porto, afirma que a instituição elabora um calendário provisório de atividades da academia para o ano e o encaminha aos membros em caráter informativo, enfatizando que o mesmo pode sofrer alterações.

Arlindo Porto garante que o período foi o suficiente para que houvesse, inclusive, quatro candidatos à vaga: a professora Márcia Perales, o padre João Mendonça Filho, o poeta Cláudio Fonseca e o memorialista Mário Diogo de Melo, “que disputarão a cadeira em condições de igualdade”. Mas a versão é contestada por Zemaria, que afirma que só houve outras candidaturas porque ele e outros colegas, assim que souberam da alteração das datas, convidaram os outros possíveis nomes para o pleito.

A informação é chancelada pela escritora Carmen Nóvoa e Silva, que ocupa a cadeira 33 da AAL. “Fiquei surpresa com a antecipação. Na hora que soube, eu mesma liguei para um dos candidatos que já havia manifestado interesse a mim em concorrer assim que abrissem as inscrições”, conta.
O poeta, escritor e ex-presidente da AAL, Elson Farias, admite ter sido um incidente confuso para a entidade. “É um fato curioso, um equívoco que deve ser reparado pela academia. Não pode mais se repetir”, limita-se.

Zemaria Pinto sustenta a ideia de que havia intenção em deixar apenas um candidato à vaga. “O estatuto prevê a divulgação do período de abertura de inscrições no Diário Oficial do Estado e na imprensa comum. Mas, infelizmente a AAL publica essa informação apenas em um jornal de pouca circulação, além do DOE, e quase ninguém fica sabendo”, afirma.

O escritor explica que o critério mais importante para efetuar a candidatura é que o interessado tenha pelo menos uma obra publicada, independente de conteúdo e estilo. Para ele, o requisito de relevância para a sociedade fica em segundo plano e o ingresso na AAL dá sinais de conveniência política, apenas. O último imortal a tomar posse na academia foi o advogado e jornalista Júlio Antônio Lopes, em dezembro de 2012, assumindo a cadeira 23, cujo patrono é Cruz e Souza, ocupada pela última vez pelo poeta Alencar e Silva.

A reportagem tentou contato com a professora Márcia Perales, mas não obteve sucesso.

(*) Transcrito do site do jornal Amazonas em Tempo, edição de hoje, 03 de março de 2013.