Amigos do Fingidor

segunda-feira, 29 de maio de 2017

No Shopping



Mauri Mrq

Ele envelheceu no shopping. Sempre o via serelepe, realizado, sem aparentemente demonstrar qualquer dissabor em sua existência. A suposta felicidade vinha em doses diárias circulando em cada canto do centro de compras Amazonas Shopping. Sua bebida preferida eram todas, de acordo com o gosto da companhia que dividia a mesa ou mesmo para aplacar sua solidão, sendo sempre explorado: até CD patrocinou para um pseudocompositor bicho-grilo baré.
O tempo foi passando e Liano firme e forte na sua perambulação diária no Shopping. O nome Liano, dado por sua mãe, foi em razão de querer ter tido uma filha, mas quando varou para o mundo, não contou conversa, a tão desejada Lia foi transformada em Liano.
Ter conhecido um juiz quando era ajudante de serviços gerais, lhe abriu algumas portas. O juiz utilizava o Foro do Tribunal de Justiça para sua prática boiolística na conquista de jovens besouros, e, numa oportunidade dessas, Liano se tornou um.
Liano conquistou a confiança do Juiz que lhe comprou Diploma de Curso Superior numa dessas Faculdades particulares de Manaus, para em seguida entrar pela janela no Tribunal com promessa de efetivação, que veio com promoção.
Sempre que me via quando ia ao Shopping, acenava, nada mais que isso. Mas, naquele dia ele acenou me chamando, convidando para tomarmos um trago. A bebida chegou, brindamos, de repente ficou mudo, vermelho; em seguida, caiu, batendo com a cabeça na mesa ao lado, sua dentadura voando, sua boca murchando, o corpo roxo no chão: um infarto fulminante.
Deduzi que ele morreu desse jeito na minha frente para que concluísse este conto da vida dele no Shopping.