João Bosco Botelho
Sem esquecer Nietzsche: “Não
há fatos, somente interpretações”, é possível pensar, sem receio dos exageros
da paixão, que o rápido aumento do desvendar da microestrutura nos níveis
moleculares, nos últimos vinte anos, está aproximando a ciência dos mistérios
da memória, fonte majestosa de todo o conhecimento. Sob essa perspectiva,
torna-se razoável rever as teorias de conhecimento e aproximá-las do genoma, a
origem da vida e da morte.
A abordagem para discutir
outras teorias do conhecimento obriga ligações diversas das concebidas, por
exemplo, a partir dos saberes de Locke, na ideia da “tabula rasa”, e dos de
Marx, maximizando o valor do coletivo sobre o pessoal.
Mesmo aceitando ser
impossível articular as teorias do conhecimento e os saberes em si mesmos, fora
do contexto onde são produzidos, não há dúvida quanto à fantástica repetição de
atitudes humanas de fuga à dor ou à simples ameaça de situação dolorosa, nos
quatro cantos do planeta.
Parece claro que esse
conjunto comportamental, evidente nas relações sociais, teve forte influência
na concepção do jusnaturalismo aristotélico, ajuizando valor ao equânime, mais
fortemente presente, até o século XVII, quando sofreu transformações sob a
influência do historicismo de Hobbes e Rousseau.
A proposta teórica das
memórias sociogenéticas admite certos instrumentos sociais, formados ao longo
da ontogênese, por meio dos quais, a ordem genética interage com o social em
contínuo processo de aperfeiçoamento com o objetivo de compor atitudes
corporais e sociais para fugir da dor e procurar o prazer.
Sob a égide desses novos
conhecimentos, as teorias do conhecimento serão atualizadas quando for
acrescentado o sociogenético aos pressupostos teórico-idealista (Hegel),
material (Feuerback), histórico-social (Karl Marx), biológico (Darwin) e
comportamental (Freud). Desta forma, as memórias sociogenéticas são as pontes
biológicas que articulam a herança genética ao social e vice-versa.