João Bosco Botelho
É possível que seja nas dimensões celulares e moleculares,
dando forma à função e vice-versa, que ocorre a maravilhosa capacidade humana
de construir ideias para compreender o invisível, o imponderável, para, depois,
desvendar e nominar, transformando-o em objeto mensurável.
Esse conjunto reforça o entendimento dos discursos atados às
linguagens e impregnados do saber acumulado historicamente. No contexto da
multidisciplinaridade, as gramáticas são ideológicas por que expressam certo
tipo de posse do real que marcam profundamente nos corpos os prazeres e as
dores, sentidos e imaginados.
O objetivo primário da ação, a ideia seguida do movimento do
corpo, por si mesmo, é o mais fundamental sentimento mantenedor da
sobrevivência: a cooperação unindo todos para fugir da dor e buscar o prazer,
aqui compreendido como as garantias da sede e da fome saciadas, abrigo contra o
frio e o calor extremos, cooperação, territorialidade, sexualidade e
descendência. Algo que poderia ser chamado de crítica da proteção pura. Não se
trata, exclusivamente, do viver. O morrer pode representar, em certos
instantes, o ato cooperativo dominante e, nesse caso, a morte representará a
proteção pura.
Apesar de os estudos da anatomia e fisiologia terem
desvendado aspectos importantes da forma e da função do cérebro relacionadas às
linguagens, estamos longe, muito longe, de compreender a maior parte das
dúvidas. A principal barreira é a fantástica multiplicidade das formas, nos
seres viventes, gerando funções semelhantes: homens e mulheres possuem áreas
cerebrais semelhantes, relacionadas às linguagens, contudo jamais se expressam
igualmente nas linguagens, fazendo com que um texto ou uma pintura jamais
possam ser copiados impunemente.