Amigos do Fingidor

segunda-feira, 10 de julho de 2017

“Pátria amada, Brasil” acabou na República da Propina



David Almeida

Oh, Mãe gentil, como estás distante do povo heroico o brado retumbante, de quem tanto te ama e te tem como Pátria amada, Brasil. Mesmo com as mãos calejadas pela construção das tuas riquezas, mesmo com as mãos atadas pelo sol da tua liberdade, mesmo assim; por ti maltratados, desprezados, marginalizados, desvalorizados, ainda se emocionam aos primeiros acordes do teu hino, fechando os olhos, colocando a mão no peito, cantando, vibrando por puro respeito ao amor verdadeiro, mas na realidade, a “Pátria amada, Brasil” acabou na “República da Propina”.
Aí, dizem que essa “pavulagem” toda começou carregada, até o “tucupi” de emoção e muita coragem, num cenário lindo, demostrado num quadro de Pedro Américo, no seguinte endereço: às margens plácidas do Rio Ipiranga, s/n, e sem bairro – na beirada de um rio mesmo. E, lá estavam todos aqueles, que são, realmente, uns filhos... dessa mãe gentil; e, que, de lá pra cá, usufruem de tudo, e pouco ou quase nada fizeram; somente, aguardavam o momento para lançar pra valer, a pedra fundamental da construção da “RP” (República da Propina). Daí veio o brado com a tão famosa frase: “Independência ou morte” – hoje, “seriozinho manuzinho”, eu gostaria de gritar “pega ladrão”, e foi aquele alarido.
O grito ecoou nas matas, encrespou as águas do rio, os pássaros saíram em revoada querendo “sair fora da parada”, mas a “cabocada”, quando viu aquelas espadas todas levantadas brilhando ao sol, “tremeu nas bases”, e ficou ali, seguindo, sempre dependendo, morrendo, subtraído da ponta dos pés, até o último fio de cabelo. Contudo, independente de morrer ou viver, a “RP” – por cima da carne seca – foi crescendo, crescendo, e de mão em mão foi passando, até tomar conta do penhor dessa igualdade. E, é muita “propina” pra pouco dono! Essa “República” continuou crescendo, passando de mão em mão, se repartindo, se multiplicando. Cada fatia da “propina”, “democraticamente” tem seu dono, seu lugar, mas, porém, todavia, contudo, não obstante, a vida dos donos da propina passa incólume, sobre os filhos deste solo, como um gigante pela própria natureza.  
Essa onda de Pátria amada, idolatrada, salve, salve, até agora, não salvou bulhufas nenhuma, a não ser muita propina para os bolsos de poucos, e tudo continua sobre as mãos dos que sempre surrupiaram o que o povo produz – pra ser mais real – é o Reinado da Propina, onde eles têm livre acesso à riqueza produzida por essa gente, que, realmente, nunca “fugiram do trampo”; onde os que trabalham e buscam a honra, a honestidade, para viver e interagir, livre, no relacionamento com o seu semelhante, não tem o direito de pensar, de se vestir como cidadão,  para, pelo menos, admirar a imagem do real resplandecer da vida, né?
O sol da liberdade em raios fúlgidos deixa, literalmente, na escuridão um povo despido, desamparado, sob o bafo de um mormaço angustiante, à espera de fiapos de luz, que poderão vazar, ou não, pelas frestas, das festas iluminadas pelos “propineiros”, e os olhos gulosos da ganância no domínio desse pedaço de chão que bem poderia ser de todos.
Ah, minha Pátria amada, salve, salve os pobres que a duras mãos te constroem, te sustentam, te cobrem de fartura e vivem à espera do milagre do pão, que se petrificou de tanto esperar a mão que continuaria o milagre, deixando outras mãos fazerem milagres em prol de suas mochilas e malas pretas.
Levanta-te, sua “cuirona”, desse berço esplêndido; espia ainda, “manazinha”, sente o amor do teu povo, conduzido feito gado, nos caminhos risonhos dos teus lindos campos floridos. Enquanto cochilas eternamente, o mundo festeja o teu sono, ao som do mar e à luz do céu profundo, e gostam de te ver assim: inerte, passiva, emotiva, sob os olhos ávidos da águia, que cheia de “amor e de esperança à terra desce.”
O futuro não espelha mais a tua grandeza, porque a essa altura do campeonato, de tanto tirar, roubar; de tanto matar, ferir, vais ficar “gitinha”, pálida, desbotada.
O céu e o sol soluçam sobre um lençol cinza cobrindo o que era verde-louro da tua flâmula. Só a propina brilha no céu da Pátria nesse instante, e um aviãozinho, cheio de “pavulagem”, que passa pra lá e pra cá, levando, para lavar a jato, o lábaro, que um dia poderemos ostentar, estrelado, sob a curva da ordem e do progresso.  

É hora de acordar sob o signo da verdade e da justiça, sentir claridade e transparência neste país – quiçá, um dia, iluminado ao sol do novo mundo. Aí, sim, poderemos estufar o peito, e ir de supersônico, pra um futuro digno, e, orgulhosamente, dizer: “Dos filhos deste solo és mãe gentil, Pátria Amada, Brasil”!