David Almeida
Oh, Mãe gentil, como estás
distante do povo heroico o brado retumbante, de quem tanto te ama e te tem como
Pátria amada, Brasil. Mesmo com as mãos calejadas pela construção das tuas
riquezas, mesmo com as mãos atadas pelo sol da tua liberdade, mesmo assim; por
ti maltratados, desprezados, marginalizados, desvalorizados, ainda se emocionam
aos primeiros acordes do teu hino, fechando os olhos, colocando a mão no peito,
cantando, vibrando por puro respeito ao amor verdadeiro, mas na realidade, a “Pátria
amada, Brasil” acabou na “República da Propina”.
Aí, dizem que essa
“pavulagem” toda começou carregada, até o “tucupi” de emoção e muita coragem,
num cenário lindo, demostrado num quadro de Pedro Américo, no seguinte
endereço: às margens plácidas do Rio Ipiranga, s/n, e sem bairro – na beirada
de um rio mesmo. E, lá estavam todos aqueles, que são, realmente, uns filhos...
dessa mãe gentil; e, que, de lá pra cá, usufruem de tudo, e pouco ou quase nada
fizeram; somente, aguardavam o momento para lançar pra valer, a pedra
fundamental da construção da “RP” (República da Propina). Daí veio o brado com
a tão famosa frase: “Independência ou morte” – hoje, “seriozinho manuzinho”, eu
gostaria de gritar “pega ladrão”, e foi aquele alarido.
O grito ecoou nas
matas, encrespou as águas do rio, os pássaros saíram em revoada querendo “sair
fora da parada”, mas a “cabocada”, quando viu aquelas espadas todas levantadas
brilhando ao sol, “tremeu nas bases”, e ficou ali, seguindo, sempre dependendo,
morrendo, subtraído da ponta dos pés, até o último fio de cabelo. Contudo, independente
de morrer ou viver, a “RP” – por cima da carne seca – foi crescendo, crescendo,
e de mão em mão foi passando, até tomar conta do penhor dessa igualdade. E, é
muita “propina” pra pouco dono! Essa “República” continuou crescendo, passando
de mão em mão, se repartindo, se multiplicando. Cada fatia da “propina”,
“democraticamente” tem seu dono, seu lugar, mas, porém, todavia, contudo, não
obstante, a vida dos donos da propina passa incólume, sobre os filhos deste
solo, como um gigante pela própria natureza.
Essa onda de Pátria
amada, idolatrada, salve, salve, até agora, não salvou bulhufas nenhuma, a não
ser muita propina para os bolsos de poucos, e tudo continua sobre as mãos dos
que sempre surrupiaram o que o povo produz – pra ser mais real – é o Reinado da
Propina, onde eles têm livre acesso à riqueza produzida por essa gente, que,
realmente, nunca “fugiram do trampo”; onde os que trabalham e buscam a honra, a
honestidade, para viver e interagir, livre, no relacionamento com o seu
semelhante, não tem o direito de pensar, de se vestir como cidadão, para, pelo menos, admirar a imagem do real
resplandecer da vida, né?
O sol da liberdade em
raios fúlgidos deixa, literalmente, na escuridão um povo despido, desamparado,
sob o bafo de um mormaço angustiante, à espera de fiapos de luz, que poderão
vazar, ou não, pelas frestas, das festas iluminadas pelos “propineiros”, e os olhos
gulosos da ganância no domínio desse pedaço de chão que bem poderia ser de
todos.
Ah, minha Pátria amada,
salve, salve os pobres que a duras mãos te constroem, te sustentam, te cobrem
de fartura e vivem à espera do milagre do pão, que se petrificou de tanto
esperar a mão que continuaria o milagre, deixando outras mãos fazerem milagres
em prol de suas mochilas e malas pretas.
Levanta-te, sua “cuirona”,
desse berço esplêndido; espia ainda, “manazinha”, sente o amor do teu povo,
conduzido feito gado, nos caminhos risonhos dos teus lindos campos floridos.
Enquanto cochilas eternamente, o mundo festeja o teu sono, ao som do mar e à
luz do céu profundo, e gostam de te ver assim: inerte, passiva, emotiva, sob os
olhos ávidos da águia, que cheia de “amor e de esperança à terra desce.”
O futuro não espelha
mais a tua grandeza, porque a essa altura do campeonato, de tanto tirar,
roubar; de tanto matar, ferir, vais ficar “gitinha”, pálida, desbotada.
O céu e o sol soluçam sobre um lençol cinza cobrindo o que era verde-louro
da tua flâmula. Só a propina brilha no céu da Pátria nesse instante, e um
aviãozinho, cheio de “pavulagem”, que passa pra lá e pra cá, levando, para
lavar a jato, o lábaro, que um dia poderemos ostentar, estrelado, sob a curva
da ordem e do progresso.
É hora de acordar sob o
signo da verdade e da justiça, sentir claridade e transparência neste país –
quiçá, um dia, iluminado ao sol do novo mundo. Aí, sim, poderemos estufar o
peito, e ir de supersônico, pra um futuro digno, e, orgulhosamente, dizer: “Dos
filhos deste solo és mãe gentil, Pátria Amada, Brasil”!