Amigos do Fingidor

quinta-feira, 14 de setembro de 2017

Câncer: a partitura desarmônica da vida



João Bosco Botelho

O mundo continua, com justa razão, alerta contra o câncer como a mais importante doença da atualidade. A razão é contundente: a medicina não oferece, na maior parte dos casos, respostas convincentes.
É importante assinalar que existem milhares de tipos de cânceres e não é privilégio dos humanos: pode ocorrer em qualquer animal e vegetal multicelular. 
É provável que os cânceres sejam provocados por múltiplos fatores internos e externos à célula.  Os determinantes internos seriam representados pelo código genético específicos para cada tipo de câncer, na estrutura do genoma (como o teclado de um piano) e os externos pelos incontáveis fatores físicos, químicos e biológicos que poderiam estimular a chave genética (atuando no teclado, produzindo sons desafinados) resultando nos cânceres. 
A construção metafórica seria assim: cada ser humano teria o seu próprio teclado de informações genéticas produzindo partituras harmoniosas em equilíbrio dinâmico com a vida social. Em determinado momento, o teclado, ao ser tocado de forma incorreta, por influência de um ou mais fatores extrínsecos, forneceria um som estranho à partitura, na organização da vida, dando como resultado o câncer. 
O aparecimento do câncer deve acontecer muito mais vezes do que supomos. É pouco provável que milhões de combinações moleculares efetuadas de uma só vez, a cada minuto, no genoma não comportem erros.  Certamente, estamos submetidos continuamente, durante a vida, ao processo canceroso.  Entre muitas dúvidas é saber por que as defesas imunológicas do corpo conseguem bloquear a maior parte dos cânceres e perde a capacidade para outros. 
Respeitados cancerologistas, como o francês Dominique Stehelin, um dos responsáveis pela descoberta do oncogene (o fator intrínseco contido no teclado do piano) afirma que o câncer é a doença mais complicada do homem. 
O exemplo mais marcante e socialmente importante é a relação entre o hábito de fumar cigarros e o câncer do pulmão.  As pesquisas realizadas pelo Instituto de Câncer de Amsterdã mostraram o mesmo defeito no gene K Ras em trinta e nove pacientes fumantes. Contudo, uma pessoa pode fumar a vida inteira e não morrer de câncer. Como se o seu teclado, por mais que seja estimulado, não forneça o som desarmônico.    
Como ainda não dispomos de tratamento eficaz para a maior parte dos cânceres, são válidas as campanhas de alertas contra os fatores externos – como a do tabagismo –, que tocam erradamente o teclado, relacionados com o aparecimento dos cânceres de pulmão, laringe, boca e bexiga.