Amigos do Fingidor

segunda-feira, 8 de janeiro de 2018

Os 100 anos da Academia Amazonense de Letras


Zemaria Pinto


Em novembro de 2005, em uma palestra na AAL sobre o fundador da Cadeira nº 21, Octavio Sarmento, eu apontava, de três fontes diferentes, três datas para a fundação da Sociedade Amazonense de Homens de Letras, que em 1920 mudaria para o nome atual, sem distinção de gênero: 1º, 7 e 17 de janeiro de 1918.[1]
Em outra palestra, em outubro do ano seguinte, sobre o fundador da Cadeira nº 24, Paulo Eleutherio, eu esclarecia de uma vez essa dúvida, a partir da leitura do jornal A Capital: a instalação solene da SAHL dera-se no dia 9 de janeiro de 1918, uma quarta-feira, às 20h, no salão nobre da Assembleia Legislativa do Estado, que funcionava nos altos da Biblioteca Pública – Barroso com 7 de Setembro. Dos 30 “homens de letras” que compunham a sociedade, apenas 20 compareceram à solenidade.[2]
E por que, então, se insiste na data de 1º de janeiro?
Ora, quem de vocês – cara leitora, caro leitor – não conhece pelo menos um caso de data de nascimento trocada, ou por equívoco dos declarantes ou por erro do cartório?
Casa de Adriano Jorge,
na rua Ramos Ferreira, 1009 - esquina com Tapajós.


Dez anos após a segunda pesquisa, buscando informações sobre Nunes Pereira – que iriam resultar no opúsculo Nunes Pereira, esboço em cinza e sombras – encontrei, novamente em A Capital, mais detalhes sobre a fundação da SAHL, que, certamente, serão tema de um texto mais amplo. Limito-me agora a dar algumas informações adicionais e tirar uma conclusão.
A primeira reunião aconteceu no dia 9 de dezembro de 1917. O jornal do dia anterior relaciona 25 nomes e diz que aquela será a “reunião de fundação da Sociedade Amazonense de Homens de Letras”.
No dia 12 de dezembro, A Capital informa que “a festa de instalação será a 1º de Janeiro, no Teatro Amazonas”.
Na edição de 14 de dezembro, o mesmo jornal noticia que os Estatutos serão apresentados no domingo, 16.12, “à assembleia geral” da entidade.
Infelizmente, entre os dias 14.12 e 06.01, não há qualquer informação sobre a nascente SAHL. No dia 1º de janeiro, entretanto, noticia-se, sem mencionar o horário, que será levada à cena do Teatro Amazonas, pela terceira vez, a “brilhante peça literária de Coelho Netto, A Pastoral”.
Nada, absolutamente nada, aconteceu no dia 1º de janeiro.
Terá havido um prosaico desencontro de agendas? O uso do teatro fora vetado? Provavelmente, jamais saberemos.
O que ficou é que, conforme o Estatuto datado de 29 de março de 1920, publicado na Revista da AAL Nº 1, em julho daquele ano, a SAHL – que daquele dia em diante se chamaria Academia Amazonense de Letras – fora fundada em 1º de janeiro de 1918. É, portanto, a certidão de nascimento da AAL.[3]
Mas que ela nasceu mesmo foi no dia 9 de janeiro, isso ninguém mais me desmente.
E uma curiosidade: a Sociedade, que nasceu misógina e só viria aceitar uma mulher – Violeta Branca – em 1949, completa 100 anos tendo uma mulher, a primeira, como presidente – a educadora, filósofa e historiadora Rosa Mendonça de Brito.
Longa vida à Academia Amazonense de Letras – de todos os gêneros!






[1] PINTO, Zemaria. Octávio Sarmento. Revista da Academia Amazonense de Letras, nº 27. Manaus: Valer e AAL, 2007. p. 247-268.
[2] PINTO, Zemaria. Paulo Eleuthério. Revista da Academia Amazonense de Letras, nº 29. Manaus: Valer e AAL, 2010. p. 37-49.
[3] A AAL acaba de publicar, em edição fac-símile, a referida revista. Se eu fosse um lobo da estepe, diria que é uma edição só para raros...