Amigos do Fingidor

quinta-feira, 4 de janeiro de 2018

Práticas de curas ancestrais 2/2


João Bosco Botelho


A maior parte das lesões encontradas representa doenças de origem traumática, talvez secundárias aos acidentes de caça e disputas pessoais. As lesões traumáticas cranianas são as mais comuns. Em sítio arqueológico próximo de Pequim, um grupo de onze indivíduos do grupo de Java, quatro crânios apresentaram perfurações traumáticas fatais. Em outra área de escavação, os restos mortais de uma família do Paleolítico Superior composta de sete pessoas, o mais velho apresenta fratura com depressão do temporal esquerdo, a mulher adulta tem fratura parietal esquerda e os outros crânios, pertencentes a crianças de diferentes idades, mostram traumatismos mortais na cabeça. No sítio mesolítico de Ofnet, na Áustria, foram desenterrados trinta e seis crânios, na maioria de crianças, todos arrancados dos corpos e, na maioria, com esmagamento dos ossos parietais provocados por objeto cortante. Outros esqueletos foram estudados com pontas de sílex encravadas em diferentes ossos.
Os moradores das cavernas, muito úmidas, nos longos períodos invernais, com mais de cem mil anos, sofreram os processos degenerativos causados pela artrite deformadora, conhecida como gota das cavernas, e doenças das gengivas, cáries e raquitismo. As bactérias fossilizadas e fungos também foram identificados: o pólen de Nenúfar, designação de diversas plantas da família das Ninfeáceas, capazes de determinar reação alérgica no homem atual, existe desde o Pleistoceno médio, isto é, há mais de 100.000 anos.
Um dos achados acidentais mais extraordinários foi o homem batizado de Ötzi: o corpo congelado, ao sul da fronteira austríaco-italiana. Com pouco menos de 1,60 metros e 46 anos de idade, velho para as pessoas da época, o estudo do DNA evidenciou que era originário da Europa central. O cadáver mostrava várias lesões traumáticas com fraturas na terceira e quarta vértebras e o braço esquerdo quebrado. Ötzi estava numa posição estranha, caído de bruços sobre o rochedo, o braço esquerdo dobrado para o lado direito, e a mão direita presa embaixo de uma pedra grande. Seus objetos e roupas, também inteira ou parcialmente congelados, estavam espalhados a sua volta, alguns a vários metros de distância. Datações de carbono do material vegetal junto ao corpo e das amostras da pele e dos ossos, realizadas em três laboratórios diferentes, confirmam que ele viveu há cerca de 5.300 anos.

Dessa forma, não há dúvida de que os nossos ancestrais longínquos estabeleceram práticas indicando haver especialistas cuidando da saúde dos outros.