Pedro Lucas Lindoso
No dia 19 de março celebra-se São José. Há muitos devotos
aqui no Amazonas. O santuário a ele dedicado é grande e muito frequentado.
Provavelmente, essa devoção seja herança cultural dos milhares de cearenses que
vieram para cá, enriquecendo-nos com sua cultura, crenças e tradições.
A figura bíblica de José é intrigante. Pessoalmente, eu já
meditei muito sobre este mistério. José, noivo de Maria, é informado por um
anjo do Senhor que sua futura esposa irá conceber uma criança que será o nosso
Salvador. Diferente de Maria, que tem “falas” bíblicas, como: “Eis a serva do
Senhor”, José obedece às instruções divinas num silencio totalmente obsequioso.
Penso que todos nós homens, cristãos ou não, podemos ficar intrigados com a
atitude de José.
Uma jovem amazonense, moradora da Zona Leste da cidade,
também chamada Maria, apaixonou-se pelo rapaz errado. E dele engravidou. Essa
manauara, Maria do século 21, que não é nenhuma santa, deu um passo errado, com
o rapaz mais errado ainda. O moço foi assassinado pela violência inerente às
disputas pelo tráfico de drogas na cidade.
A jovem Maria, apavorada, relatou o fato a sua mãe, que quase
desmaiou. E disse à filha:
– Teu pai vai te matar. Vai te expulsar de casa!
Mãe e filha não tiveram alternativa a não ser relatar tudo àquele
homem. Trabalhador e pai de família, também chamado José. Ambas apavoradas com
a sua reação. Certamente ficaria violento ao saber que a filha de dezesseis anos
estava grávida de um bandido.
O homem ouviu tudo. Uma lágrima rolou em seu
rosto. Não disse absolutamente nada. Abraçou a mulher e a filha. Ambas
espantadas com a reação do pai e marido. O homem continuou em silêncio. Um silêncio tão obsequioso quanto o de São
José. Mas diferente. Ali havia perdão.
O silêncio de São José e do José manauara só pode ser explicado
no amor. Imenso amor a Deus e à vida.